segunda-feira, 11 de julho de 2011

Os Filhos da Droga (Christiane F.)

Os Filhos da Droga é, sucintamente, a história de uma rapariga alemã toxicodependente. Este livro surge-nos da compilação de um conjunto de entrevistas entre Christiane F e quatro jornalistas da revista alemã Stern. A acção, ou melhor, toda a vivência desta jovem, passa-se em Berlim Ocidental entre os anos de 1975-1977. A estação de comboio Zoo era o ponto de encontro entre jovens toxicodependentes, local onde angariavam clientes – sendo a prostituição era uma fonte de rendimento para conseguirem as doses diárias de droga.
A história segue Christiane desde a sua infância, quando era abusada pelo pai, que era alcoólico, até à sua adolescência quando procurava desesperadamente aceitação, validação e amor, e se precipitava cada vez mais em volta dos clubes nocturnos de Ku’damm, e todos os problemas de droga associados a este mundo. O livro também nos dá conta o relacionamento entre a mãe de Christiane e dona de um clube de jovens, Haus der Mitte. A relação de Christiane também mostra o que uma pessoa psicologicamente viciada em drogas é capaz de fazer para conseguir obtê-las.
Quando Christiane se apercebe que o vício da droga não a tornava fixe, descontraída, feliz, nem preenchia todos os seus vazios interiores, ela já estava agarrada, vendia o corpo por 40 marcos em Bahnoff Zoo (Estação Zoo) para alimentar o seu hábito. Christiane não romantiza nem dá um sermão (algo que torna distintivo deste livro de muitos do mesmo género), mas permite que a sua própria experiência sirva como um aviso, de tal modo que é quase impossível nutrir qualquer empatia por ela.
Um livro muitas vezes considerado verdadeiramente difícil de se ler, o que não deixando de ser verdade, já que ela ainda era uma criança quando começou a experimentar com drogas, o livro poderá ser definido como algo mais desconsolado do que difícil, devido aos factores que a conduziram a tais experiências e a procurar conforto nelas. Um relato bem realista uma vez que mostra uma sociedade tal como ela é, desnudada, sem perspectivas, marcadas pelo divisionismo quer físico quer social, em que os relacionamentos passam fundamentalmente por jogos
calculistas, manipulativos e, acima de tudo, por um egocentrismo civilizacional, na medida em que os outros existem para servir um propósito auto-centrado. Ninguém realmente se interessa ou quer saber dos nossos problemas, lembremo-nos da parte em que as clínicas de reabilitação recusavam ajudar Christiane por ela não ter um perfil “adequado”. De certa forma este livro acaba por, transversalmente, lidar com o verdadeiro sentido da vida.
Todos temos de encontrar aquilo de que realmente gostamos, amamos, e da vida procurar receber inspiração e um desejo de viver. Temos de delinear alguns objectivos para a vida e impô-los a nós próprios. Jamais tentarmos fintarmo-nos àquilo que somos para sermos aceites, ao aprendermos a gostarmos de nós, de sermos até certo nível auto-suficientes em termos emocionais, então os outros também terão uma atitude diferente para connosco. Uma atitude de aceitação, e de reciprocidade afectiva. Assim, apesar da história se passar numa Berlim Ocidental
dividida em finais da década de 70, podemos facilmente visualizá-la em qualquer sociedade urbana contemporânea, numa qualquer lugar deste mundo, marcada por uma sensação de alienação que não passa apenas pelas franjas da sociedade.
Um livro fantástico mas também uma queda, uma vertigem na qual deixamos de vislumbrar o sol, arrepiante, triste, deprimente e ao mesmo tempo maravilhoso.




Autor: Christiane F.


Editora: Bizâncio


Páginas: 336


Género: Testemunho

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